domingo, 19 de fevereiro de 2017

À Tela da minha alma, iluminura do meu mais secreto amor

Vejo-te passar por entre os respingos dessa chuva fria acordando o corpo quente. Nada em mim desagua tão facilmente como o desejo inacabado de ti, nesta mente que te sonha em suspiros de um prazer alarve e mundano.
Inspiras-me o desassossego de uma loucura premente entre a tua pele e a minha; numa languidez exacerbada a um toque que me queima sem me tocar, a língua viperina que me apimenta a saliva a cada beijo. Somos a instância selvagem que nos sacia em cada golfada de nós; a loucura e a exaustão, saliva, suor e degustação. Desejo.
A fruição desajeitada de um amor que se derrete num calor escondido em vertigens no meu peito. Não posso dar-me ao luxo de escancarar ao vento a tórrida eloquência de te amar sob um chão de estrelas banhadas pela lua. A maciez tentadora da pele na pele. O afago desmedido que me enlouquece num esquecimento de mim. És tão real quanto hipotético. E eu quero-te nos desejos sequiosos da terra árida face à chuva. Quero-te em todos os impossíveis irrisórios que me arrepiam o seio ao calor da tua boca. O toque da língua a sorver-me a pele, em cada centímetro de desejo que em ti desperto. Entre roupas que se despem na pressa consentida, trocada entre olhares que se entregam desmesuradamente. Quero-te entre os ponteiros de segundos que ninguém viu, numa tenacidade exasperada a um prazer que de proibição se transmuta em maior anseio, numa paixão descontrolada e permitida. A boca salivando a vontade entre mútuo desejo. A pele ardendo ao toque dos dedos. O arrepio dos sentidos em estímulos de um enlouquecimento que só nos encontra a nós. Devoro silenciosamente o corpo já despido de tabus face à ardência que hipnotiza a razão. Aprendi a amar-te à pressa, sem consciência que me tolde entre o certo e o errado. O amor é a liberdade mais pura de nós. A fusão perfeita de dois corpos que se encaixam em contornos que se fundem entre si, numa tenacidade que nos despe do mundo, numa apoteose nirvânica que em suspiros se denúncia etérea.
Amar-te-ei, secretamente, em todas as luminosidades e sombras que a vida me deixar fruir de ti. Na sobriedade de um ângulo obtuso demasiado acentuado, que se esbate lentamente, na suavidade dos contornos face ao tornear discreto de um corpo entre sombras. Na sensualidade de um estímulo exacerbado na premência estonteante que nos atiça os sentidos. Eduquei-te a alma no sublime toque. O delicado sentir preso no decote, no seio que brota em esplendor a fugaz paixão. És tela entre as mãos amanhecida, renascida de fragmentos invernais. A pincelada perfeita no expressionismo deste amor cubista. Serás sempre a metade da minha pele cozida à mão na perfeição cromática de nós. E eu serei o segredo que partilhamos entre as nossas bocas, entre murmúrios de um prazer que nos dilui aos dois, entre os pigmentos das cores adensadas na alma. Sugar-te-ei em cada poro na volúpia intransigente de quem se entrega à loucura de te ter apenas por breves instantes, sobre o meu corpo, numa carnalidade apressada que imprime na tela da alma o sabor agridoce entre ambiências profanas e sagradas que me ressuscitam o corpo à secreta transpiração de ti…

domingo, 31 de janeiro de 2016

Amei desmedidamente e sofri...sofri como quem ama desmedidamente.

Não sei de ti desde que chegaste. Não te alcanço o olhar com a minha voz. Nem sei onde pára o teu corpo envolto em pó entre os meus dedos, são cruéis e permanentes os meus medos porque não há certezas que sejas real. São apenas palavras... Palavras esculpidas a medo sobre o areal e o teu segredo encobre-lo mudo e quedo sobre este papel. Não há vultos presos sob o nevoeiro, nem pegadas alheias no rastro de pedra, existem apenas velhas fadas que tricoteiam a vida em teia com os nossos enganos. Amei e suspirei em versos esta agonia, não transmutava a alma nem por puros gestos ao rolar da maré, saber de mim eu já não sabia, não era modesta a poesia e eram escassos os grilhões que me prendiam os pés. Voei em mente ao cair da noite no tropeço calmo desta fantasia, abracei o ar como um açoite, como o solar de um pai que se arrelia. E era doce a quimera que avistava, o suave eleito desta entrega súbita, o desenlace quase sério, gotas mórbidas de uma cruel cicuta. E era de sonho, tecido a linho, este silêncio, o bordar cru de uma fina linha, sob a pele cortada o corpo já nu, a tropicalidade de uma iguaria fina. Eram ilusões de reacções já paralelas, entre astros já cansados de prisões, nascem no fulgor do negro, no manto do degredo, estrelas aos milhões.
Eduquei-te a alma no sublime toque, o coração soberbo retocado à mão, o delicado sentir preso no decote, no seio que brota em esplendor a fugaz paixão.
Não queiras ser metade da minha pele cozida à mão na perfeição de nós. Não queiras ser metade inacabada de mim mesma. Sou e serei sempre uma brisa errante sem espaços, seguindo apenas o vento, sem devoção nem tempo para me manter entre os teus braços.não há distância mais cruel que a lucidez extasiante de alguém, que quando partiu entre a amargura sorriu e entre sorrisos chorou, a mágoas não ser real...As palavras do areal...Um promontório de ilusões...
A metade de nós dois...vultos alheios...alucinações...casto e prever-se...
Metade de nós dois...mundo utópico de perturbações...Sem lugar no Universo.

sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

“Sai da mão de Deus que a contempla, antes de criá-la, como uma criança, que chora e ri sem verdadeiro motivo, a alma ingênua que tudo ignora, excepto quando, movida pelo desejo de retornar a Ele, segue de bom grado o que a diverte”. Dante Alighieri


Hoje sigo rumo à estrela que se desenha no horizonte e me conduz. O rumo é incerto e talvez inseguro. As pedras de uma calçada rude terminando numa capela derrubada pela erosão grotesca dos dias. No interior velas acesas espalhadas pelo chão e um choro amiúde sussurrado. Entre as sombras de luz vaga um modesto Presépio. Ajoelho-me em silêncio contemplando as imagens esculpidas grosseiramente em barro. A face de Nossa Senhora retém-me fixa nos contornos finos do seu estrelado olhar. E quando subitamente me desprendo olhando o Deus-menino, não há nada no seu lugar. Apenas a palha de uma manjedoura vazia da sua presença. Não foi o espanto daquele vazio que me dessassogou a alma, ainda não era dia de Natal, e o menino ainda não era nascido para ocupar aquele lugar, mas nesse instante sinto puxarem-me o tecido das calças e olho em volta e vejo o menino despido, descalço, pegando-me na mão e pedindo-me colo. Desenrolo a minha écharpe e cubro-o, afagando-o no regaço, aquecendo-o entre os braços, acolhendo-o em mim. E o Deus-Menino procura o meu rosto e sorri, num sorriso escancarado feito de arco-íris e luar. E banha-me com essa luz quente de uma madrugada imprevista de encontro perpétuo entre dois sóis. A magnitude perfeita de uma carícia suave de quem toca a pele sem a tocar. Uma paz quase divina de quem caminha sobre nuvens ao sol da manhã. E o Deus-menino coloca-me a mão sobre os olhos e leva-me a viajar pelo mundo. Vejo-o inquieto distribuindo nacos de pão a uma fome que suga o corpo e devora a mente. Sinto-o contorcer-se de dores ao toque na pele da faca fria da morte face ao abandono. E sinto-lhe as lágrimas quando o peso da inacção humana lhe derruba o gesto puro com que nos toca o coração. Vejo-o brilhar ao sol brincando por entre crianças com sua bola de trapos. Vejo-o diluir-se na chuva quando o deserto se desfaz pela aridez da alma humana. Adoptei este menino e trago-o a residir no meu peito. Não abandono a voz que me guia nesta doçura quase surreal de um pingo de mel deposto nos lábios pela abelha rainha. Reencontrei a minha posição neste mundo cego que traga a ilusão dos afectos pela mundana corporalidade. Uma multidão desesperada e pouco atenta.  O meu Deus-Menino desmaterializou-se do Presépio e ronda-me como um pequeno anjo que volteja sobre mim, prendendo-me a atenção ao cantar da chuva no parapeito da janela, ao desabrochar da terra seca bebendo de um trago o doce néctar. E sussurra-me em risadas doces as traquinices que os petizes o induzem a fazer mesmo não sabendo que aquele menino só é da rua porque nos habituamos a edificar estátuas e ícones de um Deus distante que vive omnipotente no seu pedestal. Eis o Deus- menino que habita o presépio do meu peito, aquele que nasceu entre a linha ténue do toque divino no perfeito terreno e da castidade humana na sabedoria divina. O Deus-Menino que vejo brincar e sorrir por entre os espaços da minha vida, acompanhando-me nesta caminhada e guiando-me pela mão, impulsionando-me face à desistência da minha missão perante o mundo, quando é nas nossas mãos que se edifica o verdadeiro milagre…. O milagre da partilha, da multiplicação, voltada num altruísmo inequívoco da caridade pura que parte sem racionalismos equívocos directamente do coração.

terça-feira, 11 de dezembro de 2012

“Deus depositou a plenitude de todo o bem em Maria, para que nisso conhecessemos que tudo o que temos de esperança, graça e salvação, dela deriva até nós”. (São Boaventura)


A loucura quer seja apenas um retrocesso na sanidade mental ou quer seja apenas uma liberdade interior que nos desagrega do moralmente imposto, é sem dúvida o aceitar com compromisso aquilo que a vida nos delega nos braços, como um filho órfão que temos que cuidar. Querer esvoaçar o silêncio e roubar as asas a um sonho que não tivemos coragem de viver. Querer aprender a sorrir, quando já não há mais dor que nos impeça de sofrer. Querer abraçar o mundo e esquecer que abrir os braços é o encaixe perfeito na cruz. Querer esquecer por um segundo o pormenor de vivermos apenas centrados em nós. Loucura…. é despejarmos os preconceitos que nos amordaçam à nascença. É trilhar o caminho que o desejo nos coloca como meta a atingir, sem ter medo de ferir os pés nas pedras ou de não ter quem nos ampare a queda. É viver a paixão que nos desafia a não colocar barreiras entre nós e os outros. É não ter medo de abrir o coração ao prego duro da saudade, da ausência, do penar. É saber de cor as rugas do sorriso e que as lágrimas servem apenas para o fazer florir….é ter coragem de aceitar as vicissitudes da vida e perceber que por vezes há gente em pior situação e que sofre em silêncio e que  não se resigna de aceitar a sua cruz.

Assim é MARIA. O recetáculo divino e puro que irradia a graça plena de um novo amanhecer no mundo.

A mãe que se desenha nas mãos do divino Criador. Aceitando acolher no ventre a centelha divina do filho de Deus feito homem, sabendo que aceita também a dor da sua perda, a angústia do sofrimento e humilhação da morte na cruz. Mas MARIA é “a oficina virginal onde o Salvador operou a nossa Salvação” e sabe que da sua entrega ao Pai, chega a vitória do seu filho sobre a morte e a sua Ressurreição. MARIA é o doce favo de mel, que vê cumprir-se consigo os desígnios de Deus. É a garantia da fé na identidade de Cristo… Não será uma loucura uma Mãe seguir fielmente o caminho do calvário vendo a dor, a humilhação, o escárnio que o seu filho recebia da humanidade que veio salvar? Não. A loucura de MARIA é depositar a sua vida nas mãos de Deus e aceitar na sua humilde pobreza, todo esse sofrimento, na ardência da sua fé profunda, que sem questionar, rejubila no seu íntimo a revelação da promessa de Deus. MARIA doa-se a Deus como sacrário detentor do próprio Deus vivo. MARIA é a Mãe que transporta no regaço as lágrimas de uma dor maior. Uma dor silenciosa que desenha a estilete no seu peito as chagas abertas em Cristo. MARIA é a visão de Deus numa obra que tem como prefácio ardente a salvação de uma humanidade egoísta que não se pode deserdar. MARIA é a Mãe Suprema que aceita o sacrifício supra-humano do seu filho, suportando às costas o peso de alheias culpas, o chicote árduo da ira humana a talhar-lhe a pele, a penosa angústia de uma sede ardente, as quedas que o arrastam sobre pedras frias, as heresias afiadas que o pregam ao madeiro rugoso da sua consumação, e o sangue derramado do cordeiro para salvação de toda a humanidade.

Com Eva sofremos a condenação e entrega à morte, com MARIA através do Espírito Santo a restituição à vida. Obrigado Virgem Mãe, pela resignação e doação da tua vida ao Pai para redenção dos teus filhos pecadores, e perdoa se a minha voz não corresponde fielmente ao silêncio humilde que no meu peito aninha o meu amor por ti, terna Mãe.

sexta-feira, 30 de novembro de 2012

“Ter fé é assinar uma folha em branco e deixar que Deus nela escreva o que quiser”. Santo Agostinho


O teu corpo é a tua catedral, não procures fora dele a paz e o silêncio da tua oração. Fecha os olhos calmamente e inala devagar o cheiro a terra que te unifica com a criação premente da vida humana. Edifica na tua mente todos os momentos de felicidade plena que te fizeram sorrir. Liberta-te a pouco e pouco e deixa que essa luz ilumine o teu coração e te conduza nesse diálogo com o Pai. Acreditas nessa voz que te arrepia a pele e ecoa pelo teu coração numa prece de salvação divina, de paz transmutada num amor gratuito e pleno? Eis a tua fé. A fé que na cegueira terrena alcança com o espírito o que os olhos nos impedem de enxergar.  A fé que não se mede em proporções físicas mas em acções, em partilhas de altruísmo inato e puro de entrega total sem esperar retorno, numa certeza de que nunca o Deus que nos entregou o seu Amado Filho nos haveria de abandonar. Esta é a nossa fé… Uma fé que não precisa de ser esbatida de porta em porta, que não precisa de ludibriar multidões, nem empobrecer espíritos. Uma fé ousada e repousada na mão de Deus criador omnipotente e misericordioso, que não julga, não condena, mas perdoa, liberta, purifica e ama. A nossa fé vive-se mas acima de tudo sente-se. É uma dádiva que não racionalizamos, mas compreendemos com os olhos da alma, numa mística quase inabalável, que nos revela que Deus é a vida, a verdade e o caminho. O grande desafio humano é ter sensibilidade de espírito para acreditar no que não se vê. O entregar a vida nas mãos de um Deus, que não idolatrou por puro capricho imposto por uma sociedade materialista e desigual, não é rebeldia, não é desafio à sociedade, é convicção árdua e devoção convicta de que Nele reside a água pura que sacia a verdadeira sede, a sabedoria autêntica que nos desvenda os mistérios da vida e o Amor fraterno que nos atiça com sua centelha divina a transparência da alma e a purificação do corpo. A fé que prontifica a doarmo-nos inequivocamente sem arrependimento nem retaliações. A fé que nos abarca nos exemplos dos mártires que abraçaram a morte sem nunca se desapegarem de Deus, numa constância de lealdade santificante. A fé que renovamos dia-a-dia no compromisso atento onde nos tornamos sacrário de Deus vivo entregando-lhe o nosso vazio coração para que nele, Deus na sua grandiosa magnitude nos encha com o seu conforto, a sua luz e nos torne apóstolos por antonomásia como São Paulo. O apóstolo dos gentios que um dia na sua caminhada se deixou tocar pela voz e ofuscar pela luz do Deus que perseguia, e que desde o primeiro momento soube pela sua ainda não revelada fé que era Deus. São Paulo é o exemplo de dedicação e de fé maior que podemos levar na nossa caminhada. Um exemplo inequívoco de Devoção, de Amor a Deus, de Lealdade e de Renúncia de toda a sua vida para seguir um Cristo que não conheceu, mas que acolheu no seu seio como estandarte vivo de evangelização e de salvação humana.

terça-feira, 23 de outubro de 2012

“Há quem morra desconhecido por não ter tido um teatro diferente”*



Os sonhos nunca são demasiados, se na nossa vulnerabilidade humana, os encararmos apenas como ilusões de uma mente demasiado fértil, subjugada à realidade permanente das atrocidades que os podem destruir face a um passo imperfeito. O mestre – regra tinha dado as pancadinhas de Molière há muitos anos e a cortina abrira-se sem soluço, implacável face à exigente plateia. Tinha entrado em cena com as asas de um anjo que se irradia de luz numa apoteose perfeita de um talento inato. Mas a madeira desse palco tornou-se carunchosa e ruiu debaixo dos seus pés…nem o pai, carpinteiro de profissão, lhe poderia restaurar o chão daquele palco demasiado pequeno e evitar que o seu menino voasse. Era um menino… um menino que partia rumo à cidade grande, cheio de fantasias e de sonhos na sua mala de cartão, à revelia de tantos que com pés de chumbo não souberam polir-lhe as asas e ajudá-lo a voar. O palco transformou-se em tenda de circo, e o menino no alegre palhaço sem pretensões de grandeza ou de júbilo, apenas a humildade do sorriso fácil de quem sutura as feridas pelo amor à arte…mas as pedras da rua, dessa tenda improvisada em areias movediças, abrandaram-lhe o sorriso pela torrente das lágrimas, mas a desistência nunca seria um desfecho de uma peça produzida à sua medida, seria apenas o trampolim para alcançar o sonho, intensificar a garra, e a luta de vingar pelas dores o sofrimento que se lhe impunha face à maldade dessa humanidade descrente e sem compreensão. O menino caiu e aprendeu a levantar-se. A vida foi mais madrasta que mãe e mais drama que comédia, mas nunca desistiu do seu público…muitas vezes encenando inequivocamente no espaço da sua própria mente, com personagens que tecia entre as páginas de uma peça com escassos actos, em tragédias gregas, que transfigurava em páginas soltas da sua própria vida. Porque “no teatro nada é convencional” e o lema reportou-se a toda uma peça realizada por Deus, e que ele assumia com uma dignidade e subordinação legítima de quem aceita o argumento sem questionar a veracidade dos factos. Foste o mestre atento à revolução inequívoca das palavras que se apoderavam de mim neste frémito louco e desmedido com que escrevo. Que me incutiu o sabor de viver várias vidas inventadas entre corredores de um enorme teatro que é a Vida. Aprendi que o talento é um dom com que Deus nos polvilha com a sua centelha divina e que não o devemos negar, mas oferecer para ser partilhado. E o mais importante de tudo, o sentimento, o silêncio, o respeito mútuo, a liberdade, as palavras soletradas para serem esculpidas em nós a cinzel… Foste um Homem que sempre foi menino… o menino com quem eu tive o privilégio e a alegria de partilhar uma “infância” demasiado curta e que me deixou marcas profundas de um Adeus que ainda não consegui exorcizar em mim….As cortinas do palco da tua vida fecharam-se mas eu vou continuar a aplaudir-te de pé…

*em memória do meu querido Tio Eurico Moniz Martins de Araújo falecido em 13 de Outubro de 2005.         

quinta-feira, 27 de setembro de 2012

O Desespero da dor

Leva-me estas lágrimas, não as deixes voltar. Não deixes que o silêncio mudo me mate o peito à ausência do que sinto por ti. Da dor que me morde por dentro na miséria mais cruel. No sonho que se apaga destruido pela ira. As saudades que tenho do sabor da felicidade sobre os lábios gentis da beleza. O âmago do prazer com que me injectas nas veias a tristeza. E nada em mim é pressuposto inatíngível de ti, sou a inconstância, a tua maior relutância, o inicio do meu fim. Escorrem-me lágrimas de prata sobre o rosto, e o sabor que me mata fel transformado em mosto. Trago o rosto moldado de cicatrizes, de sangue transparente que escorre sobre o peito. E és tu o meu mais cruel defeito. O gesto lamacento sombrio. A chuva que me afoga no meu leito. És a loucura infundada da minha insânia. O alvo descrente de uma vida sem norte que projectada à deriva que não teve pingo de sorte. Abraça-me a intermitente ausência da tua alma em ti. O vazio do olhar que se despe sem qualquer alegria. Mata-me na vulgaridade atroz que me transmuta a dor em sofrimento. A garra pesada da minha pele rasgada ao vento. Suga-me a alma, despedaça-a contra o corpo, não deixes que a ilusão a faça procurar abrigo no teu porto. Trago as tuas mãos na garganta, na cadência dos ponteiros do relógio. Nesse desassossego que cospe a vulgar heresia contra o último desejo. E mais hora menos dia, desassossego ou zombaria a morte imposta pelo medo da tua cobardia.